quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Formação Continuada do Professor no contexto da reorientação curricular da Educação Infantil
Sueli D’arc de Azevedo

RESUMO
Este artigo apresenta elementos fundamentais identificados durante pesquisa e projeto de intervenção desenvolvida com professores de Educação Infantil no município de Osasco tendo como foco a formação continuada em relação à Reorientação Curricular da Educação Infantil em Osasco (RECEI), que tem por objetivo mobilizar os educadores da rede municipal para uma ressignificação das suas práticas pedagógicas, oferecendo assim oportunidades permanentes da ação-reflexão-ação. A pesquisa se deu por meio da observação da prática docentes em sala de aula, nos Círculos de Cultura realizados no horário de trabalho pedagógico e nas paradas pedagógicas previstas ao longo de cada ano letivo.

PALAVRAS-CHAVES: Formação Continuada, Reorientação Curricular na Educação Infantil, Educação Infantil.

ABSTRACT
This paper presents key elements identified during research and intervention project developed with teachers of kindergarten in Osasco focusing on continuing education in relation to the Early Childhood Education Curriculum Reorientation in Osasco (recei), which aims to mobilize educators municipal to a redefinition of their teaching practices, thus offering permanent opportunities of action-reflection-action. The research was done through observation of teaching practice in the classroom, in the Culture Circles performed on schedule and pedagogical teaching the charts provided throughout each school year.


KEYWORDS: Continuing Education, reorienting curriculum in early childhood education, Early Childhood Education.

INTRODUÇÃO
A Escola é o lugar onde se faz amigo, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é sobretudo, gente que trabalha, estuda, que se alegra, que se conhece, se estima. (Autor desconhecido)

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a formação continuada de professores no qual participei, na qualidade de gestora escolar e no contexto da Reorientação Curricular na Educação Infantil (RECEI) vivenciada pela Rede Municipal de Educação de Osasco, Este processo teve inicio em 2008 e foi marcado por momentos de discussão, reflexão, estudos e construção coletiva de novos referenciais curriculares para a  Rede, por meio de uma agenda específica de formação continuada de professores.
Entendemos que a construção de novas referencias curriculares para a Educação Infantil, com vistas a consolidação de uma prática curricular comprometida com uma educação de qualidade social para todos, deve ter por pressupostos o marco legal contido expresso na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) no Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio de 2011-2020, aprovado pelo Congresso Nacional que estabelece 20 objetivos e 20 metas para a educação (Lei 10.172);  nas Diretrizes Nacionais para a Educação Básica;  No Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos; na Lei nº 10.639/2003, que trata das relações étnico-raciais no currículo escolar; na Política Nacional de Educação Inclusiva, Documento elaborado pelo grupo de Trabalho pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948 de 09 de outubro de 2009; na Convenção da ONU, para os Direitos das pessoas com Deficiência e no Decreto Federal n.º 6.571, sobre o atendimento Educacional Especializado (AEE). Deve ter  como prioridade oferecer as crianças de 0 a 5 anos ensino/aprendizagem de boa qualidade, onde o educando seja sujeito ativo na elaboração e organização da rotina diária (planejamento), favorecendo assim o exercício de uma cidadania autônoma e consciente dos seus direitos e responsabilidades.
Nesta perspectiva a formação continuada e em serviço do professor (a) deve ser tratada com nível de importância que a mesma requer, envolvendo profissionais da equipe gestora, funcionários (as), professores (as) e, também familiares das crianças. O documento da Reorientação Curricular de Educação Infantil (RECEI) foi apresentado aos gestores, docentes, funcionários e pais/responsáveis em 2010. Considerando que o processo educacional é dinâmico e permanente, o referido documento não foi apresentado como algo pronto e acabado, mas como síntese das discussões construídas processualmente junto a Rede desde 2008.
É um grande desafio construir formas que favoreçam a reconstrução de práticas docentes a partir da reorientação curricular numa rede inteira de ensino, buscando transformações que favoreçam o ensino aprendizagem de forma significativa e humanizadora. Esse desafio passa por processos de formação continuada, círculos de cultura e ampla discussão dos resultados alcançados a cada período letivo.
No planejamento de cada jornada de formação continuada com professores, foi necessário refletir sobre a prática docente na Unidade Escolar, pois se observou que parte dos professores (as) da Unidade possuía um paradigma pedagógico tradicional, acreditando que os pequenos só aprendem através de exercícios de coordenação motora repetitivos, data comemorativa através de desenhos prontos, letras isoladas do texto, cópia de palavras e sílabas, pois ainda não concebiam que:

[...] a criança precisa estar em atividade para aprender, para isso precisamos acabar com os tempos de espera, com as atividades prontas e semiprontas, em relação às quais a criança tem pouca participação. Quanto maior for à participação da criança, mais acertamos na atividade que forma crianças curiosas, interessadas, inteligentes e solidárias, educadas, disciplinadas e cidadãs. (MELLO, 2010b, p.380).

Neste contexto o objetivo geral desta pesquisa é buscar alternativas de transformação através da formação Continuada do (a) professor (a), com foco nas referencialidades curriculares da Rede Municipal de Ensino o que a insere, refletindo sobre as práticas docentes que favoreçam o Ensino Aprendizagem de forma significativa e humanizadora.


DESENVOLVIMENTO

Ao realizar o projeto de intervenção em uma Unidade Escolar de Educação Infantil no ano letivo de 2012, situada no município de Osasco, observou-se que seria necessários momentos de estudo e reflexão sobre a proposta de reorientação curricular em construção curricular.
  Para garantir que a proposta acontecesse na prática na Unidade Escolar, foi necessário propiciar momentos de estudo e reflexão durante as Paradas Pedagógicas, horário de trabalho Pedagógico (HTP) e em reunião de pais/responsáveis, sendo necessário planejar esses momentos, de modo a dar legitimidade à proposta de reorientação, demonstrado ser possível sim aplicá-la em nossa prática cotidiana.

...o planejamento curricular apresenta-se como um desafio para a comunidade escolar comprometida coma a construção da prática educacional crítica, já que este se caracteriza com um rompimento com os programas oficiais aletoriamente preestabelecidos, assumindo-se como comunidade curriculista efetiva, construtora de sua prática pedagógica, ou seja, como sujeito coletivo que, criticamente, supera os obstáculos epistemológicos da tradição sociocultural escolar, predispondo-se à análise da realidade imediata em que a comunidade escolar se insere, tomando decisões e arquitetando os fazeres curriculares a ela pertinentes. (FREIRE, 1988), falta o número da página.

Para começar refletiu-se sobre as seguintes questões: Qual a sua concepção sobre infância? Como compreendemos a escola?  Qual a concepção de educação que fundamenta nossas ações no interior dela? O que esperamos de nossas crianças? Como organizar o tempo e o espaço no cotidiano escolar? O que você pensa em relação a garantir a criança o direito de brincar? Como você organiza o tempo e o espaço da sala de aula? Qual sua opinião em relação à realização de cópia de atividades pelas crianças?
Através da observação, percebeu-se que parte dos professores estabelecia um paradigma pedagógico tradicional de sua prática cotidiana, porém com particularidades que variam de acordo com sua concepção de ensino/aprendizagem.
Durante os momentos de estudo e discussão do documento (RECEI), os docentes foram percebendo que parte da teoria estava presente em sua prática em sala de aula, que apesar dos novos desafios seria possível mudar a prática no cotidiano da sala de aula, no entanto não seria fácil, seriam necessários vários momentos de ação-reflexão-ação. O desafio principal foi repensar em relação à função social da leitura e da escrita na Educação Infantil, onde o professor é o escriba e o leitor para as crianças e que cópias e exercícios repetitivos não garantem a aprendizagem, neste contexto foi realizado estudo de textos sobre alfabetização e letramento na Educação Infantil.

 ... essencial é que as crianças estejam imersas em um contexto letrado - o que é uma outra designação para o que também se costuma chamar de ambiente alfabetizador - e que nesse contexto sejam aproveitadas, de maneira planejada e sistemática, todas as oportunidades para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que elas já vinham vivenciando antes de chegar à instituição de educação infantil. (Soares Magda, Oralidade, alfabetização e letramento Revista Pátio Educação Infantil An0VII - Nº 20 - Jul/Out, 2009.)
Esse contexto deve ser planejado e organizado intencionalmente por educandos (as) e docentes, disponibilizando maior oferta de vivências interessantes à criança, possibilitando escolha de atividades que a mesma deseja fazer/manipular dentre os materiais e atividades disponíveis, formando assim seres humanos autônomos.

As relações, as atividades significativas, a expressão das crianças, as diferentes linguagens, os espaços e os tempos escolares são considerados indicadores de qualidade de um currículo que têm a criança e o (a) professor (a) como sujeitos do processo de conhecimento. A maneira como o tempo e o espaço são organizados revela a concepção de criança e de aprendizagem que orienta o planejamento das ações no ambiente das instituições escolares. As crianças com as quais nos relacionamos são consideradas como sujeitos capazes que, ativamente, exploram e interagem com o espaço escolar. (OLIVEIRA, 2011, p.100)

Sendo imprescindível, ainda, que o (a) professor (a) seja exemplo para seus educandos não só nas ações acima citadas, mas em todos os sentidos no cotidiano escolar.




Conclusão
O objetivo deste trabalho de intervenção foi compreender os processos de  transformações na prática docente experienciadas pela equipe docente de uma Unidade de Educação Infantil, através da formação continuada, tendo como foco a proposta da Secretaria de Educação de Osasco a Reorientação Curricular da Educação Infantil (RECEI).
Ao final da pesquisa observou-se que parte dos docentes não conheciam na integra o documento da RECEI, sendo assim tinham uma concepção errônea sobre o objetivo de questões como: brincar livremente, brincadeira de faz de conta, sobre a leitura e a escrita na Educação Infantil, em como trabalhar as diversas linguagens, a leitura e a escrita na Educação Infantil, planejar a rotina junto com as crianças e a organização do tempo e do espaço. Após vários momentos de ação-reflexão-ação, os docentes perceberam que parte da proposta (RECEI), já estava presente em sua prática, porém seriam necessários momentos de planejamento coletivo, buscando transformações que favoreçam Ensino Aprendizagem de forma significativa e humanizadora.
Como sabemos, as discussões e reflexões em torno de novas referencialidades curriculares de uma Rede de Ensino a serem incorporadas no planejamento das unidades escolares que a interagem são processuais e continuas, exigindo permanentes processos de avaliações e troca de experiência, pois para transformar práticas velhas e cristalizada é necessário ousadia.
Foi possível observar que os docentes da Unidade Escolar A obtiveram avanços em direção ao desenvolvimento de reflexões e práticas que venham de encontro com a RECEI, porém ainda existem grandes caminhos e desafios pela frente, sendo este processo de constante trabalho e envolvimento.

Referências (completar)

OLIVEIRA, Marinalva et al. Reorientação Curricular da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. Caminhos e descaminhos. Revista Pátio. Porto Alegre. Ano VIII, nº 29, p. 18-22, Fev/Abr, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1988.